Adivinha o que o Marcos fazia para pagar a faculdade? Trabalhava como assistente em uma Clínica Dentária. Ele ganhava bem, e era o único aluno da turma dele que necessariamente precisava trabalhar para pagar a faculdade. Coincidência ou não, ele sempre chegava antes dos outros alunos, e isso permitia que conversássemos e trocássemos algumas ideias antes da aula começar.
Um dia Marcos chegou cabisbaixo na aula e eu perguntei o que ele tinha. De uma maneira bastante emocionada,
ele me revelou que o sonho dele era ser locutor de futebol, e que tinha feito um teste numa rádio e tinha sido reprovado. Estava tão arrasado, que queria largar tudo. Ele achava que o trabalho que tinha só servia para pagar a faculdade, mas que se a faculdade não servia para ajudá-lo a passar num teste de seleção, logo ele iria largar tudo. Não precisava de faculdade e nem de trabalho algum. Tudo o que eu pude dizer para ele naquela manhã foi: “nunca abandone seu sonho.
Abandonar seus sonhos é abandonar a você mesmo”. Apesar de ter concluído o curso e de ter abandonado aquele trabalho anos depois, Marcos foi um daqueles que continuou lutando pelo sonho, com mais dificuldade do que as pessoas normais, porque em paralelo ele pulava de empresa em empresa para tentar se sustentar. Sabe o que ele faz hoje?
Trabalha como locutor num programa esportivo de uma rádio. Ele acorda às 5h30 da manhã todos os dias, feliz da
vida. E tem um outro trabalho também para compensar a não realização financeira que o trabalho da rádio traz.
Talvez ele não seja tão talentoso assim, mas conseguiu um ponto de equilíbrio entre a felicidade no trabalho e a realização financeira. Talvez você se pergunte: e por que ele não volta para a clínica em que trabalhava então,
em paralelo com a rádio? Porque infelizmente essas são coisas que só a maturidade nos ensina. É preciso viver
e descobrir muitas coisas antes disso.
A primeira delas é a nossa semente, e a segunda é o nosso sonho. Precisamos fazer com que eles se encontrem, e isso
precisa acontecer o mais rápido possível.
Que semente tem dentro de você?
Você já viu semente de laranja resultar em abacate? Ficou espantado com a minha pergunta? A resposta seria tão óbvia se diariamente eu não presenciasse pessoas querendo forçar laranja a ser parecida com abacate. Como assim?
Vamos mergulhar no universo corporativo e veremos o quanto é comum líderes quererem que sejamos exatamente o
que idealizaram para nós. Vemos pessoas certas, mas nos lugares errados. Vemos pais médicos querendo que seus filhos sejam médicos, quando na real o talento ali é para ser pintor. Então, o que está acontecendo?
O Princípio da Semente estabelece que seu crescimento maior, mais rápido e mais fácil advém de suas habilidades
naturais e até já falamos bastante sobre isso. Mas a diferença aqui é com relação ao próximo também. A maioria das
pessoas tende a olhar as outras como se pudesse transformá-las naquilo que bem entendem. E sabemos que isso é algo quase impossível. Na realidade, devemos olhar para dentro das pessoas, procurando ver que tipo de semente há lá dentro. Assim como uma árvore, cada pessoa possui uma semente. Que semente tem a pessoa que trabalha ao seu lado? Que semente tem o seu pai? O seu filho? O seu líder? E você?
Definitivamente temos o desejo de querer que as coisas ou pessoas sejam da forma como gostaríamos, mas temos
o dever de respeitar a forma como elas se apresentam. Muitas vezes elas são legais, e o fato de terem uma semente
diferente da nossa não significa que precise gerar um conflito. Significa apenas que precisamos olhar diferente para a diversidade. Ela só traz benefícios, mas nós continuamos querendo usufruir apenas da parte ruim. É como termos
uma linda e doce laranja e insitirmos apenas em comer os caroços. Por que fazemos isso?
Porque temos nossas experiências, nossas crenças, nosso DNA. E porque somos muito mais egoístas do que podemos imaginar. Continuamos semeando arroz e insistindo em colher feijão. Ou seja: pessoa certa no lugar errado, ou ainda a pessoa errada no lugar certo. Quer um exemplo? Por um acaso você conhece o sonho do seu colega ao lado? Quantos gerentes conhecem os sonhos de cada um de sua equipe? Isso poderia mudar absolutamente tudo em termos de relacionamento, e absolutamente tudo, novamente, em termos de resultados e de satisfação no trabalho.
Alessandra Assad é diretora da AssimAssad Desenvolvimento Humano.
Formada em Jornalismo, pós-graduada em Comunicação Audiovisual e MBA em Direção Estratégica, é professora no MBA de Gestão Comercial da Fundação Getulio Vargas, Consultora Senior do Instituto MVC, palestrante e autora do livro Atreva-se a Mudar! – Como praticar a melhor gestão de pessoas e processos.